sábado, 24 de outubro de 2015

Morena

Não negues, confessa
Que tens certa pena
Que as mais raparigas
Te chamem morena.

Pois eu não gostava,
Parece-me a mim,
De ver o teu rosto
Da cor do jasmim.

Eu não... mas enfim
É fraca a razão,
Pois pouco te importa
Que eu goste ou que não.

Mas olha as violetas
Morena
Não negues, confessa
Que tens certa pena
Que as mais raparigas
Te chamem morena.

Pois eu não gostava,
Parece-me a mim,
De ver o teu rosto
Da cor do jasmim.

Eu não... mas enfim
É fraca a razão,
Pois pouco te importa
Que eu goste ou que não.

Mas olha as violetas
Que, sendo umas pretas,
O cheiro que têm!
Vê lá que seria,
Se Deus as fizesse
Morenas também!

Tu és a mais rara
De todas as rosas;
E as coisas mais raras
São mais preciosas.

Há rosas dobradas
E há-as singelas;
Mas são todas elas
Azuis, amarelas,
De cor de açucenas,
De muita outra cor;
Mas rosas morenas,
Só tu, linda flor.

E olha que foram
Morenas e bem
As moças mais lindas
De Jerusalém.
E a Virgem Maria
Não sei... mas seria
Morena também.

Moreno era Cristo.
Vê lá depois disto
Se ainda tens pena
Que as mais raparigas
Te chamem morena!


Guerra Junqueiro, in "A Musa em Férias"

Ilha do Pessegueiro

[Fonte dos Namorados, Vale de Cavalos.]

"Valle de Cavalos termo da villa de Santarém, Patriarcado de Lisboa, freguesia de Nossa Senhora de Marvila da villa de Santarém por ser distrito da dita freguesia.É Del-rei este lugar, pois Sua Magestade ser-lhe-ão pagos os tributos". in "Vale de Cavalos, Uma terra disputada" de José João Marques Pais.
Convido , a quem tiver fotografias de época e memórias, a partilhá-las.
Não encontro informação sobre este lugar, agora, a ser recuperado por um benfeitor da terra.
Na fonte pode ler-se "1972".
P.S. Já fui muito feliz aqui!

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

#100 Recomeço

Começo por Vos escrever e dizer que este é o post número 100! 
O primeiro post depois de ter percebido de que não sou uma super-mulher, de que não aguento ter quatro trabalhos, estar a fazer uma dissertação de mestrado, escrever livros, uma casa para cuidar e uma família com que me preocupar. 
Caí. 
Não aguentei tanto trabalho. 
Não me envergonho de o dizer. Pelo contrário. 
A partir de hoje vou ser mais saudável. 
Vou comer a tempo e a horas, vou sorrir mais, vou fazer desporto. 
Nem sei há quanto tempo as minhas Nike não saiam à rua!
Soube-me pela vida a caminhada matinal, o sol a bater-me na cara, o cheiro a campo. Respirar!!!
Escrevo porque sei que não sou a única. 
A vida não nos permite destas coisas até que não aguentemos mais. 
Partilhe, comente!
Vamos fazer a diferença!
Desistir é que não vale!


As minhas Nike novas (têm quase 7 anos)!



E o que eu encontrei? Vê-se mesmo que agora vivo na cidade!

Daniela Rodrigues do Rosário




sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Luto

Sinto falta de te ver.
Tenho saudades do teu sorriso e das tuas brincadeiras. 
O meu coração dói e a minha alma teima em não querer que me erga. 
És parte de mim. 
Serás para sempre. 
O céu cada vez mais estrelado diz-nos que sempre que olharmos para lá, podemos sentir-te. Sentir-vos. Será que ele é assim tão grande?
Um sorriso tenta disfarçar um sentimento. Mas não o consegue fazer quando estamos completamente dilacerados.
Uma dor que nos torcida, que nos desfaz, que nos destrói. 
Oh luto este…que não se vê, mas dói tanto.
Nunca serei a mesma.
Nunca mais seremos os mesmos.
Vou recordar-me de ti para sempre.
E quando a memória me falhar vou procurar-te nas fotografias e reencontrar o teu sorriso de novo.

Daniela Rodrigues do Rosário


segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Metade

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio;
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca; 
Porque metade de mim é o que eu grito,
Mas a outra metade é silêncio...

Que a música que eu ouço ao longe
Seja linda, ainda que tristeza;
Que a mulher que eu amo seja para sempre amada 
Mesmo que distante;
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade...

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece
E nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta 
A um homem inundado de sentimentos;
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo...

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço;
E que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada;
Porque metade de mim é o que penso 
Mas a outra metade é um vulcão...

Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo
Se torne ao menos suportável;
Que o espelho reflita em meu rosto
Um doce sorriso que me lembro ter dado na infância;
Porque metade de mim é a lembrança do que fui,
A outra metade eu não sei...

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria 
para me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais;
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço...

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer;
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção...

E que a minha loucura seja perdoada 
Porque metade de mim é amor
E a outra metade... também.

Oswaldo Montenegro

A Persistência da Memória, Salvador Dali

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Habemos Nobel da Literatura!

Chama-se Svetlana Alexievich e nasceu no ano de 1948 em Ivano-Frankovsk. Filha de pai bielorrusso e mãe ucraniana é  a 14.ª mulher a receber o Nobel da Literatura. 

Segundo o Jornal Diário de Notícias “De fora ficaram o eterno Haruki Murakami, Philip Roth, Joyce Carol Oates e Ngugi Wa Thiong'o, bem como António Lobo Antunes, outros dos mais bem posicionados escritores. Svetlana Alexievichn é a 14.ª mulher a recebê-lo entre os 112 escritores que fazem parte da lista do Nobel da Literatura - a última tinha sido Alice Munro, em 2013”. http://www.dn.pt/inicio/artes/interior.aspx?content_id=4822979

Svetlana Alexievich surpreendeu muitos, ao vencer, pois por norma destacam-se autores de romances, poesia ou novela. 

Já conhecia a autora? Eu vou certamente ler e procurar entender este género literário que nos apresenta. 

Daniela Rosário


quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Votar é um dever!

Segundo uma notícia do Observador, desta segunda-feira, um terço do Parlamento vai ser ocupado por MULHERES.
Não havia melhor notícia para receber neste dia 5 de outubro, que se comemora a Implantação da República Portuguesa.
Não é o facto de deixar de ser feriado que devemos reclamar. É sim a abstenção mais uma vez.
Portugueses se não votam, se o vosso voto é em branco, fica tudo na mesma!
Voltando a notícia em análise, são 76 mulheres, 76 deputadas que vão defender o país num total de 226 lugares do Parlamento.
Citando o artigo que pode ler-se em: http://observador.pt/2015/10/05/mulheres-no-parlamento/  “Na coligação Portugal à Frente, dos 99 deputados eleitos, 33 são mulheres (33,3%). No Partido Socialista, dos 85 deputados eleitos, 27 são mulheres (31,78%). No Bloco de Esquerda, dos 19 deputados eleitos, 6 são mulheres (31,58%). No Partido Comunista Português, dos 17 deputados eleitos, 7 são mulheres (41,18%). No PPD/PSD Madeira, dos três candidatos eleitos, duas são mulheres e no PPD/PSD Açores, foi eleito um candidato e uma candidata”.
Celebremos!
Quero terminar este artigo com o Hino Nacional “A portuguesa”. Com letra de Henrique Lopes de Mendonça e música de Alfredo Keil que data de 1890, apesar de ter sofrido alterações (e bem) em 1957.

Cantemos em uníssono:
I
Heróis do mar, nobre povo,
Nação valente, imortal,
Levantai hoje de novo
O esplendor de Portugal!
Entre as brumas da memória,
Ó Pátria sente-se a voz
Dos teus egrégios avós,
Que há-de guiar-te à vitória!

Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar!
Contra os canhões
marchar, marchar!
II
Desfralda a invicta bandeira
À luz viva do teu céu!
Brade a Europa à terra inteira:
Portugal não pereceu
Beija o solo teu jucundo
O oceano, a rugir d'amor,
E o teu braço vencedor
Deu novos mundos ao Mundo!
Às armas, às armas!
Sobre a terra e sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar!
Contra os canhões
marchar, marchar!
III
Saudai o Sol que desponta
Sobre um ridente porvir;
Seja o eco de uma afronta
O sinal de ressurgir.
Raios dessa aurora forte
São como beijos de mãe,
Que nos guardam, nos sustêm,
Contra as injúrias da sorte.
Às armas, às armas!
Sobre a terra e sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar!
Contra os canhões
marchar, marchar!

É por si, é por mim, é por todos nós.

Daniela Rodrigues do Rosário
5 de outubro de 2015
Artigo de opinião para o site www.omundojornalismo.com

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

[IT´S ALL ABOUT LOVE. LIVE AND LOVE.]

Funeral Blues

Stop all the clocks, cut off the telephone,
Prevent the dog from barking with a juicy bone,
Silence the pianos and with muffled drum
Bring out the coffin, let the mourners come.

Let aeroplanes circle moaning overhead
Scribbling on the sky the message 'He is Dead'.
Put crepe bows round the white necks of the public doves,
Let the traffic policemen wear black cotton gloves.

He was my North, my South, my East and West,
My working week and my Sunday rest,
My noon, my midnight, my talk, my song;
I thought that love would last forever: I was wrong.

The stars are not wanted now; put out every one,
Pack up the moon and dismantle the sun,
Pour away the ocean and sweep up the wood;
For nothing now can ever come to any good.

W.H.Auden


quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Amo-te sem saber como

Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio
ou seta de cravos que propagam o fogo:
amo-te como se amam certas coisas obscuras,
secretamente, entre a sombra e a alma.

Amo-te como a planta que não floriu e tem
dentro de si, escondida, a luz das flores,
e, graças ao teu amor, vive obscuro em meu corpo
o denso aroma que subiu da terra.

Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde,
amo-te directamente sem problemas nem orgulho:
amo-te assim porque não sei amar de outra maneira,
a não ser deste modo em que nem eu sou nem tu és,
tão perto que a tua mão no meu peito é minha,
tão perto que os teus olhos se fecham com meu sono.

Pablo Neruda, in "Cem Sonetos de Amor"



Pintura: Pablo Picasso