Os quatro esperávamos ansiosos que a ambulância chegasse, sentados no portal, com os pés pendurados como miúdos.
Lá íamos conversando sobre futilidades, deste e daquele, com o coração apertado.
Ele chegou.
Quando o estavam a tirar da ambulância levantou a cabeça e eu sorri para ele.
Disse-lhe "boa-tarde". Ele respondeu-me. Ele respondeu! Não o ouvia falar há mais de duas semanas.
Foi tão bom! Senti tantas esperanças!
Gostei tanto de o ver melhor.
Vestimo-lo e eu sentei-me ao lado dele até adormecer.
Tivemos de o prender à cama, para não arrancar a sonda. Já o tinha feito no caminho para casa.
Sábado de manhã fui vê-lo. Mal falou comigo. Ficou furioso quando olhou para as mãos. Adormeceu.
Domingo, nova ida às urgências. Sonda arrancada e falta de ar. Nesse dia regressa a casa.
Segunda-feira arranca a sonda e as enfermeiras voltam a colocá-la e prende-lo à cama.
Terça chama-se o INEM, de novo, às 8h da manhã. Falta de ar, não fala, arrancou a sonda.
Está no S.O. desde ontem.
Tenho o coração apertado.
Esforço-me por sorrir para os que me rodeiam que não têm culpa.
Sou egoísta.
Gosto dele.
É meu.
É o meu avô.
A tua lua estava assim ontem.