domingo, 24 de maio de 2015

Ausência


Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta. 
Hoje não a lastimo. 
Não há falta na ausência. 
A ausência é um estar em mim. 
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, 
que rio e danço e invento exclamações alegres, 
porque a ausência assimilada, 
ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade



Fotografia: Michael Murphy