quarta-feira, 1 de julho de 2015

E continua...

Veio para casa na sexta-feira, depois de uma semana internado. 
Os quatro esperávamos ansiosos que a ambulância chegasse, sentados no portal, com os pés pendurados como miúdos. 
Lá íamos conversando sobre futilidades, deste e daquele, com o coração apertado. 
Ele chegou. 
Quando o estavam a tirar da ambulância levantou a cabeça e eu sorri para ele. 
Disse-lhe "boa-tarde". Ele respondeu-me. Ele respondeu! Não o ouvia falar há mais de duas semanas. 
Foi tão bom! Senti tantas esperanças!
Gostei tanto de o ver melhor. 
Vestimo-lo e eu sentei-me ao lado dele até adormecer. 
Tivemos de o prender à cama, para não arrancar a sonda. Já o tinha feito no caminho para casa. 
Sábado de manhã fui vê-lo. Mal falou comigo. Ficou furioso quando olhou para as mãos. Adormeceu. 
Domingo, nova ida às urgências. Sonda arrancada e falta de ar. Nesse dia regressa a casa. 
Segunda-feira arranca a sonda e as enfermeiras voltam a colocá-la e prende-lo à cama. 
Terça chama-se o INEM, de novo, às 8h da manhã. Falta de ar, não fala, arrancou a sonda. 
Está no S.O. desde ontem. 
Tenho o coração apertado. 
Esforço-me por sorrir para os que me rodeiam que não têm culpa.
Sou egoísta. 
Gosto dele. 
É meu. 
É o meu avô. 

A tua lua estava assim ontem.