terça-feira, 16 de junho de 2015

Aquele que partiu

Aquele que partiu 
Precedendo os próprios passos como um jovem morto 
Deixou-nos a esperança. 
Ele não ficou para connosco 
Destruir com amargas mãos seu próprio rosto 
Intacta é a sua ausência 
Como a estátua dum deus
Poupada pelos invasores duma cidade em ruínas 
Ele não ficou para assistir À morte da verdade e à vitória do tempo 
Que ao longe Na mais longínqua praia 
Onde só haja espuma sal e vento
Ele se perca tendo-se cumprido 
Segundo a lei do seu próprio pensamento 
E que ninguém repita o seu nome proibido. 

Sophia de Mello Breyner Andresen