Não é.
A minha vida anda assim.
Perco a noção do tempo.
Esqueço-me dos afazeres.
Deixo o ferro ligado.
Não fecho as torneiras.
Não tranco o carro em plena cidade.
Tingi uma máquina inteira de roupa clara toda de rosa.
O meu grande amor está doente.
Muito doente.
Prometi a mim mesma que quando ele não se lembrasse de mim, eu o faria lembrar.
Sentei-me na cama dele, sempre que pude, antes de termos de ter uma com grades.
A partir daí tudo mudou.
Quarto diferente. Sonda. Luvas.
Idas e vindas de INEM, tardes longas de espera, visitas ao hospital.
Quando veio para casa voltou a conhecer-me.
Não podia estar mais feliz.
Mas não durou muito.
Está internado.
E eu rezo. Rezo tanto.
Só gostava que esta história tivesse um final feliz como nos contos de fadas.
Fotografia: Jerry Uelsman