segunda-feira, 6 de abril de 2015

Pessoa para um dia cinzento

Já não me importo
Até com o que amo ou creio amar.
Sou um navio que chegou a um porto
E cujo movimento é ali estar.

Nada me resta
Do que quis ou achei.
Cheguei da festa
Como fui para lá ou ainda irei

Indiferente
A quem sou ou suponho que mal sou,
Fito a gente
Que me rodeia e sempre rodeou,
Com um olhar
Que, sem o poder ver,
Sei que é sem ar
De olhar a valer.

E só me não cansa
O que a brisa me traz
De súbita mudança
No que nada me faz.

Fernando Pessoa

Fotografia: Ansel Adams

Funeral Blues de W. H. Auden


Stop all the clocks, cut off the telephone,
Prevent the dog from barking with a juicy bone,
Silence the pianos and with muffled drum
Bring out the coffin, let the mourners come.

Let aeroplanes circle moaning overhead
Scribbling on the sky the message He Is Dead,
Put crêpe bows round the white necks of the public doves,
Let the traffic policemen wear black cotton gloves.

He was my North, my South, my East and West,
My working week and my Sunday rest,
My noon, my midnight, my talk, my song;
I thought that love would last for ever: I was wrong.

The stars are not wanted now: put out every one;
Pack up the moon and dismantle the sun;
Pour away the ocean and sweep up the wood;
For nothing now can ever come to any good.



Fotografia: Henri Cartier Bresson




Páscoa


E assim se resumem uns dias de descanso, amor, paz e sobretudo família. 
Já dizia Tolstoi "A verdadeira felicidade está na própria casa, entre as alegrias da família".










quarta-feira, 1 de abril de 2015

Tenho medo


Tenho medo do teu corpo. 
Tenho medo do tempo. 
Tenho medo da escuridão. 
Tenho medo que não me reconheças. 
Tenho medo do meu nome não te fazer recordar as brincadeiras. 
Tenho medo de na despedida não me prenderes mais no teu olhar.
Que os pássaros parem de chilrear nessa altura, que o sol se esconda, que a brisa deixe de correr, que o vento pare de soprar, que os minutos parem para eu poder dizer que te adoro. 





sexta-feira, 27 de março de 2015

O jardim feliz


Um dia vou ter um jardim. 
Um jardim onde possa cuidar de ti. 
Um jardim onde possa cuidar das flores. 
Um jardim onde possa cuidar das árvores.
Um jardim onde os nosso filhos possam apanhar a fruta,
quando querem.
Sim, um dia vou ter um jardim. 
Vou amar-te tanto que as flores vão sorrir quando passarmos,
vão florescer quando sorrirmos. 
Mas olha, meu querido. 
Mesmo sem jardim, 
mesmo sem flores,
mesmo sem árvores,
mesmo sem filhos,
vou amar-te. 




quinta-feira, 26 de março de 2015

Para ti


Sim é para ti que escrevo. 
Sim, para ti. 
Sim, tu ontem menina. 
Sim, tu hoje mulher.
Tu hoje sábia com as palavras,
que te magoam mas aquecem o coração. 
Tu hoje amiga do céu. 
Sabias que podemos olhar para o céu e nele encontrar paz?
Olha com carinho, nesta noite. 
Já experimentaste?
As estrelas estão lá para te guiar. 
Sabias que elas nos iluminam?
Olha só mais um bocadinho. 
Nesse céu escuro elas brilham. 
Brilham e são tantas que nem as conseguimos contar. 
Conseguiste ver?
E sentir?
E ouvir?
Se sim, são as constelações a abraçarem-te e a embalarem-te nesta noite gelada. 

Da tua amiga.  



 
 Fonte: noticias.r7.com

As borboletas dançarinas


Malvadas borboletas que me deixas na barriga.
O tempo passa,
o tempo pára,
o tempo continua e elas, como se de uma dança se tratasse, percorrem o meu corpo. 
Sabias disso?
Provavelmente não sabias. 
Mas eu disse te. 
Gostava de saber se o esqueceste ou só finges não lembrar. 
Olhos cor de mel, cheiro a maré, tens rosto de menino.
Meu marinheiro dá-me a tua mão e dança com estas borboletas para sempre. 

Da tua amada.