quinta-feira, 9 de abril de 2015

Se me esqueceres


Quero que saibas
uma coisa.

Sabes como é:
se olho
a lua de cristal, o ramo vermelho
do lento outono à minha janela,
se toco
junto do lume
a impalpável cinza
ou o enrugado corpo da lenha,
tudo me leva para ti,
como se tudo o que existe,
aromas, luz, metais,
fosse pequenos barcos que navegam
até às tuas ilhas que me esperam.

se olho
a lua de cristal, o ramo vermelho
do lento outono à minha janela,
se toco
junto do lume
a impalpável cinza
ou o enrugado corpo da lenha,
tudo me leva para ti,
como se tudo o que existe,
aromas, luz, metais,
fosse pequenos barcos que navegam
até às tuas ilhas que me esperam.


Mas agora,
se pouco a pouco me deixas de amar
deixarei de te amar pouco a pouco.


Se de súbito
me esqueceres
não me procures,
porque já te terei esquecido.


Se julgas que é vasto e louco
o vento de bandeiras
que passa pela minha vida
e te resolves
a deixar-me na margem
do coração em que tenho raízes,
pensa
que nesse dia,
a essa hora
levantarei os braços
e as minhas raízes sairão
em busca de outra terra.


Porém
se todos os dias,
a toda a hora,
te sentes destinada a mim
com doçura implacável,
se todos os dias uma flor
uma flor te sobe aos lábios à minha procura,
ai meu amor, ai minha amada,
em mim todo esse fogo se repete,
em mim nada se apaga nem se esquece,
o meu amor alimenta-se do teu amor,
e enquanto viveres estará nos teus braços
sem sair dos meus. 


Pablo Neruda, in "Poemas de Amor de Pablo Neruda" 

Fotografia: Ansel Adams

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Dress to impress

Eu adoro vestidos. 
De todas as cores e feitios. 

Deixo link - Vogue Portugal
http://www.vogue.xl.pt/moda/compras/detalhe/dress_to_impress.html

(I love it!)

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Pessoa para um dia cinzento

Já não me importo
Até com o que amo ou creio amar.
Sou um navio que chegou a um porto
E cujo movimento é ali estar.

Nada me resta
Do que quis ou achei.
Cheguei da festa
Como fui para lá ou ainda irei

Indiferente
A quem sou ou suponho que mal sou,
Fito a gente
Que me rodeia e sempre rodeou,
Com um olhar
Que, sem o poder ver,
Sei que é sem ar
De olhar a valer.

E só me não cansa
O que a brisa me traz
De súbita mudança
No que nada me faz.

Fernando Pessoa

Fotografia: Ansel Adams

Funeral Blues de W. H. Auden


Stop all the clocks, cut off the telephone,
Prevent the dog from barking with a juicy bone,
Silence the pianos and with muffled drum
Bring out the coffin, let the mourners come.

Let aeroplanes circle moaning overhead
Scribbling on the sky the message He Is Dead,
Put crêpe bows round the white necks of the public doves,
Let the traffic policemen wear black cotton gloves.

He was my North, my South, my East and West,
My working week and my Sunday rest,
My noon, my midnight, my talk, my song;
I thought that love would last for ever: I was wrong.

The stars are not wanted now: put out every one;
Pack up the moon and dismantle the sun;
Pour away the ocean and sweep up the wood;
For nothing now can ever come to any good.



Fotografia: Henri Cartier Bresson




Páscoa


E assim se resumem uns dias de descanso, amor, paz e sobretudo família. 
Já dizia Tolstoi "A verdadeira felicidade está na própria casa, entre as alegrias da família".










quarta-feira, 1 de abril de 2015

Tenho medo


Tenho medo do teu corpo. 
Tenho medo do tempo. 
Tenho medo da escuridão. 
Tenho medo que não me reconheças. 
Tenho medo do meu nome não te fazer recordar as brincadeiras. 
Tenho medo de na despedida não me prenderes mais no teu olhar.
Que os pássaros parem de chilrear nessa altura, que o sol se esconda, que a brisa deixe de correr, que o vento pare de soprar, que os minutos parem para eu poder dizer que te adoro. 





sexta-feira, 27 de março de 2015

O jardim feliz


Um dia vou ter um jardim. 
Um jardim onde possa cuidar de ti. 
Um jardim onde possa cuidar das flores. 
Um jardim onde possa cuidar das árvores.
Um jardim onde os nosso filhos possam apanhar a fruta,
quando querem.
Sim, um dia vou ter um jardim. 
Vou amar-te tanto que as flores vão sorrir quando passarmos,
vão florescer quando sorrirmos. 
Mas olha, meu querido. 
Mesmo sem jardim, 
mesmo sem flores,
mesmo sem árvores,
mesmo sem filhos,
vou amar-te.